Ator Humberto Martins e diretor Márcio Heleno destacam projeto de “Tudo que é Sólido”
CARATINGA – O filme “Tudo que é Sólido”, dirigido por Márcio Heleno e tendo como vilão o conhecido ator Humberto Martins, traz à tona uma história repleta de ação, emoção e nuances do interior mineiro. Com gravações na cidade e na região, o longa destaca Caratinga no cenário cinematográfico.
Em entrevista à imprensa Humberto Martins compartilha sua experiência ao interpretar o “Rei do Bicho” e reflete sobre a construção de seu personagem, enquanto Márcio Heleno revela os desafios e as conquistas no desenvolvimento deste projeto que promete impactar o público.
HUMBERTO MARTINS
Como está sendo a experiência de gravar em Caratinga e interpretar o “Rei do Bicho”?
Está sendo muito bacana. Primeiro, visitar aqui a cidade, uma experiência nova. Já gravei em várias cidades de Minas Gerais, comunidades. Mas, em Caratinga e esse lado daqui, ainda não. Achei muito interessante o povo, as pessoas, muito hospitaleiras, uma cidade muito bacana, muito bem organizada. Esse foi o primeiro ponto de chegada que me fez essa observação de sentir esse calor, essa alegria do povo, do povo mineiro, alegre, sempre tranquilo, sorridente, receptivo. E a partir da as filmagens, achei bem tranquilo, fica bem orientado pela direção do Márcio. E no decorrer também me impressionou bastante a objetividade e a agilidade desde que ele concluiu as cenas, com que ele faz as cenas. A equipe bem feliz, todo mundo muito alegre, muito tranquilo, trabalhando junto, assim, na evolução das cenas, isso me fez muito bem. Uma questão que observei e que me chamou atenção e que me serve como referência, passou a ser uma referência, de trato de set de gravação entre todos. Sempre preservei e quis que tivessem sets assim de gravação com muita amizade, tranquilidade, respeito e carinho entre todos que estão trabalhando e é dessa forma que a gente vai produzindo o filme.
O que mais chamou sua atenção no roteiro desse filme?
Me chamou a atenção toda a evolução do filme, como ele vai se desenrolando para situações que levam a uma onda de violência por uma regra já estabelecida, que tinha dentro do poderio do personagem que eu represento, que é o “Rei do Bicho”, que acaba chegando até ele de uma forma impactante de tentativa de tomar sua posição dentro de um mercado existente de jogo. Isso me chamou bastante atenção.
Você já falou em entrevistas sobre as oportunidades de descaracterizar essa coisa de galã de novela. Foi assim em o “Auto da Compadecida 2” e agora em “Tudo que é sólido” também…
Como vim de escola de teatro, pratiquei muito, até mesmo mostra de teatro escola no Rio de Janeiro, meu primeiro personagem foi da peça “O Balcão” de Jean Genet. Jean Genet era um presidiário, foi um autor preso, naquela época era proibido escrever certas coisas, aí certas entidades governamentais ficavam em cima e prendiam esses grandes autores como o Máximo Gorki, na Rússia, entre outros, que tiveram esse destino por conta das coisas que escreviam relacionadas à vida e que não eram bem vistos por eles, compreendido que estavam alertando ou mostrando ao público, ao povo, eram o grande Google da época, os escritores daquela época. O Jean Genet, fiz através da escola que eu estudava, um personagem que foi criado, estava muito doente, não pude participar da última montagem da peça de fim de ano, não queria perder o ano e fui assim contra a ordem médica mesmo fazer esse personagem e pedi, esse personagem não existia. E ali já estreei fazendo uma caracterização, ele falou então você faz um mendigo da porta da cadeia, porque ele escrevia tudo que se passava na cadeia, ali na delegacia, ao entorno, quem era preso, a história de quem era preso, do que acontecia por ali. Aí eu fiz assim e isso me deu um alerta, me acendeu desde o início, sempre procurar criar títulos. Sempre fui muito fã de Chico Anysio, desde a época do Chico City, eu gostava muito de ver o Chico Anysio e achava impressionante como ele construía títulos, um diferente de todos, de forma a você até desconhecê-lo, achar que não era ele, era outra pessoa. Isso desde quando comecei a estudar teatro, na escola de teatro, isso ficou em mim, tipo, poxa, que interessante e foi uma das coisas que me chamou atenção nessa profissão, para poder abraçá-la, que era o estudo do ser humano e das suas complexidades. Acho que, observando o seu entorno, há vários tipos de pessoas diferentes, de características diferentes, de modo de ser, de falar, entre outras coisas mais, características físicas e isso foi uma coisa que ficou em mim. Pensei, bom, vou tentar fazer isso nos personagens que eu tiver. E isso veio dando certo, na contrariedade de alguns diretores de TV que ficam muitas vezes pedindo, poxa faz você mesmo, faz com a sua voz normal. E eu falava que pesquisei esse personagem, ele tem essa característica, ele pode ser feito assim, ele pode ser as duas coisas. Ele pode ser uma pessoa interessante, como o galã que eles chamam. Então, busco sempre fugir um pouco disso, mas alguns personagens não tem como. Esse dá perfeitamente para fazer, como fiz a leitura, tentei também e acho que cheguei a uma caracterização trabalhando mais em casa, meu dever de casa lá sozinho, meu espaço, falo sozinho levanto, ando, gesticulo, vou no espelho ver como ficou a expressão, assim é que eu vou construindo. E acho que isso é muito importante porque isso abre um leque de possibilidades para um ator, você não fica somente preso e eu via que essa era uma das grandes barreiras desde novo para atores terem mais convocações, para serem mais chamados para trabalhos. E eu queria ampliar a minha possibilidade de trabalhar em outros temas que fossem diferentes do meu Physique du rôle natural, sujar um pouco isso, chamo assim dizer, dar uma “sujadazinha” nele com um modo de ser diferente. Então, a gente pesquisa a região e tal, e de acordo com o contexto, a gente cria o que se é permitido, também não se é permitido muito. Alguns não dão. Outros dão. Como o Auto teve essa característica, caracterizar bastante. Inclusive o Guel havia me chamado para fazer porque já sabia dessa minha característica. E ele falou, preciso que caracterize, que faça uma coisa assim, topa? Vamos, que eu vou pintar ele com tinta forte mesmo. Falei, vamos lá. Esse aqui tem o mesmo viés de composição.
“Tudo que é Sólido” conta com a participação de vários atores de Caratinga. Qual a importância dessa oportunidade para essas pessoas?
Acho isso maravilhoso. Não só isso, como sou a favor de que tenham projetos locais com incentivos de produtoras locais, até mesmo das emissoras aqui, repetidoras locais. Houve até no passado, fiz do Reynaldo Boury, uma iniciativa de um projeto desse na Bahia que chama, “Danada de sabida”, foi uma primeira tentativa da TV Globo de fazer um projeto desse e nós fizemos lá na região. Fizemos um especial, que é como se fosse um filme para TV de uma história local só com atores locais. Acho isso maravilhoso, acho que isso só engrandece a nossa indústria, o lugar, o estado, a cidade e as possibilidades para trabalhos da área artística, da aula visual.
Como foi o processo de construção desse vilão?
Teve o processo inicial em casa, a visualização do personagem, a gente trabalhar com a imaginação, para a imaginação trazer a criatividade, o contexto todo do texto do André e do Márcio, abre a janela de visualização, essa imaginação que nós devemos trabalhar o tempo inteiro, guiado pelo roteiro. E o que visualizei do personagem, graças a Deus, o que montei bateu exatamente com o que o Márcio queria. Fiz um pouco pra ele no camarim. Então, teve o primeiro processo, que é o estrutural dele. Depois, ele se dá continuidade, porque ele não para nunca. Aí já era no set, com a direção do Márcio, ele vai tomando outra forma mais elaborada, mais definitiva, com relação até mesmo a uma distância que ele tem que andar, aonde ele tem que parar, ou para onde ele vai ter que olhar, aí vão sendo criados novos elementos, novos arquétipos que tem, o elemento da arma, o elemento do chapéu, como tirar, gesticular, sentir aquele momento que o diretor cria, que existe alguma agilidade ou pausas, isso ou aquilo, aí é o que eu chamo de a lapidação, para poder a gente concluir.
Qual sua mensagem para a população de Caratinga?
Espero que vocês assistam “Tudo que é Sólido”, né? É um filme muito interessante, muito bem escrito, solucionado, tem uma vertente de similaridade com certas coisas aqui, né? Com a vivência da região, passado entre os personagens, as características e é um filme que é quase um bang-bang dos interiores. É muito interessante de ver, tem muita cena de ação, de emoções, tensão, de amor. É um filme muito completo, muito interessante. Fiquem atentos e assistam.
MÁRCIO HELENO SOARES
Como tem sido o processo de desenvolvimento desse projeto?
Esse projeto tem um tempo de maturação bem longo. André Regal e eu ficamos durante uns dois anos no processo de desenvolvimento desse roteiro. Tivemos um processo de escolha de atores, fizemos seleção de elenco de um grupo relativamente grande aqui na região pra gente achar esses talentos, essas pessoas que iriam compor também esse filme. Nós tínhamos alguns nomes, que esses nomes foram chegando. Humberto foi um dos nomes que a gente já tinha. Nós tínhamos alguns personagens que eram tipológicos, como o Humberto citou aqui. E fomos encontrando essas pessoas para fazer. E depois do restante, fomos montando esse casting. Então, eu acho que o roteiro, ele foi amadurecendo. A história, ela vai amadurecendo, conforme a gente vai escalando as pessoas. Porque eu costumo dizer o seguinte, que o cinema é uma arte coletiva. Essa história vai se criando nesse processo. Aí começa o roteiro, ele vai tomando forma e aí vão chegando as pessoas para emprestar um pouco da voz, corpo para esses personagens. Com o Humberto a gente já tinha conversado algumas vezes online e quando ele chegou como “Rei do Bicho”, falei, caramba, entendeu perfeitamente o que a gente tinha buscado passar no roteiro.
Há previsão de lançamento?
É um processo bem complexo. Temos todo aquele processo de captação para conseguir fazer o filme funcionar. E agora estamos na produção que vai até por volta de 3 de fevereiro e partir disso a gente já vai passar o material para montagem, esperamos o primeiro corte por volta de setembro. Mas, entre isso e lançamento ainda temos ajustes com distribuidora, plataformas, pra gente ter uma data específica sobre quando esse filme vai ser lançado. Mas a gente espera que tenha um impacto bem legal, tanto para a região quanto para o cinema nacional, a parte desse filme.
- O ator Humberto Martins e o diretor Márcio Heleno falam sobre o filme “Tudo que é sólido”
- “Achei muito interessante o povo, as pessoas, muito hospitaleiras, uma cidade muito bacana, muito bem organizada”, disse Humberto Martins sobre a cidade de Caratinga
- “Temos todo aquele processo de captação para conseguir fazer o filme funcionar”, destacou o diretor Márcio Heleno