MARCA-ipatinga-01

Na memória de Maria das Graças de Oliveira Fernandes, de 61 anos, há uma ferida que nunca cicatrizou. Uma história que atravessa gerações, carregada de perguntas sem respostas, marcada pela ausência de uma irmã que nunca foi esquecida. Nesta terça-feira (17), dona Graça, como é conhecida, esteve na Delegacia da Polícia Civil de Caratinga para registrar, o que para ela não é apenas um mistério é uma dor de alma. Ela procura por Zélia Maria de Oliveira, sua irmã mais nova, que em 1971, com apenas três anos de idade, foi internada com sarampo no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora e, segundo os relatos da época, morreu e foi sepultada sem que ninguém da família tivesse visto seu corpo. Uma história que parece saída de um roteiro impossível, mas que para Graça é uma realidade angustiante. Com os olhos marejados e a voz embargada, ela contou à reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA que nunca acreditou na versão oficial. “Como uma criança morre e a família sequer pode vê-la? Isso não tem lógica. Minha irmã não morreu”, afirma.
Naquele ano, um surto de sarampo assolava a região de Vargem Alegre, onde a família vivia. Enquanto os outros irmãos, inclusive Graça, enfrentavam a doença em casa com os pais, Zélia, que estava mais debilitada, foi levada ao hospital da cidade vizinha. A avó das crianças foi quem assumiu a missão de acompanhar a pequena Zélia nas visitas. “Ela ia todos os dias ver minha irmã. Um dia, uma enfermeira pediu que ela não fosse mais, porque Zélia chorava muito. No dia seguinte, disseram que ela havia morrido e já estava enterrada. Como assim? Uma criança de três anos simplesmente some, sem ninguém da família poder se despedir, sem funeral, sem registro oficial de óbito?”, questiona Graça. Desde então, a família nunca encontrou nenhum documento que comprove a morte de Zélia. Nenhuma certidão de óbito. Nenhuma lápide. Nada. Apenas o silêncio. O único documento que têm é a certidão de nascimento da menina, que segue guardada, como se fosse um relicário de esperança.
Mais de cinco décadas se passaram, mas para Graça o tempo não apagou a convicção de que sua irmã está viva. “Ela faz 57 anos agora, no dia 20 de julho. Eu sinto. Ela está viva, está por aí, e eu ainda vou encontrar minha irmã”, declarou, segurando entre os dedos o papel amarelado do nascimento de Zélia, como se fosse a única prova de que ela existiu, e ainda existe. A Polícia Civil agora vai notificar os órgãos que possam ter informações documentais sobre o caso, tentando montar um quebra-cabeça que ficou esquecido por mais de 50 anos. Para Graça, essa nova fase da investigação é um recomeço, um sopro de fé renovada. “Eu espero que quem souber de qualquer coisa, qualquer detalhe, fale. Pode ter alguém com essa história guardada. Alguém que sabe onde minha irmã foi parar. Eu não vou descansar enquanto não souber a verdade.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *