Em muitas cidades o período de campanha eleitoral é um dos momentos mais agitados e, muitas vezes, mais tensos e perigosos. No Brasil, onde a polarização política tem se acentuado cada vez mais, esse fenômeno se torna ainda mais perceptível. Em cidades onde o clima cotidiano é normalmente tranquilo, a chegada das eleições parece dispertar e acirrar conflitos, transformando interações normalmente pacíficas em confrontos acalorados.
Para comentar sobre esse comportamento, volto, mais uma vez, a falar das ideias de Sigmund Freud e Gustave Le Bon, que explicam como indivíduos, ao se inserirem em um determinado grupo, podem agir de forma diferente, e até contrária, a seus valores pessoais.
Freud, em “Psicologia de Grupo Análise do Ego”, nos mostra como o comportamento individual pode ser profundamente diferente quando uma pessoa se insere em um determinado grupo. Freud diz que os membros de um grupo tendem a abrir mão de sua autonomia e senso crítico, sendo influenciados pela psique coletiva, pelos modos de pensar e agir do grupo. Acredito que isso possa explicar um pouco o que acontece durante as nossas campanhas eleitorais. O clima de “nós contra eles” mexe com algumas emoçõe, como o instinto de defesa e ataque, tornando possível que pessoas, que normalmente têm um comportamento pacífico, se envolvam em discussões acaloradas e até em conflitos físicos.
Gustave Le Bon, em seu livro “Psicologia das Massas”, nos diz que, influenciado pelos ideais de um grupo, o indivíduo passa a agir impulsivamente, cometendo atos que não cometeria individualmente. Segundo Le Bon, a massa é movida por emoções e não pela razão, de maneira que se torna facilmente manipulável por líderes carismáticos, de maneira que, em períodos de campanha eleitoral, isso se intensifica, de maneira a criar um ambiente onde o emocional predomina e muitos dos eleitores deixam de lado as reflexões racionais em favor de posicionamentos carregados de emoção.
O comportamento conflituoso observado entre partidários de diferentes campos políticos, tanto nas ruas como nas redes sociais, foi chamado por Freud de “identificação” com o grupo, e suas consequências são facilmente percebidas em tempos de campanha eleitoral. Essa identificação cria uma conexão emocional de tal forma que os indivíduos passam a ver ataques aos seus candidatos ou partidos como ataques pessoais. O grupo político torna-se uma extensão do ego individual, e qualquer crítica externa é sentida como uma ameaça à própria identidade. É como se, ao fazer parte de um grupo político, o eleitor abandonasse sua capacidade crítica individual para adotar uma visão coletiva. Sob essa ótica, o conflito nas campanhas eleitorais, tão comum em várias cidades, pode ser entendido como uma consequência direta da psicologia de grupo.
Le Bon também aponta que a massa é facilmente manipulada por líderes que entendem seu funcionamento emocional. Um líder carismático, ou uma mensagem política, tem o poder de transformar um grupo pacífico em uma força caótica, dependendo da forma como o discurso é usado. No contexto eleitoral, slogans e promessas exageradas são estrategicamente utilizados para mexer com a emoção dos seguidores, podendo, muitas vezes, polarizar ainda mais as campanhas, criando um terreno fértil para os conflitos.
Assim sendo, infelizmente, os confrontos e conflitos que surgem durante o período eleitoral em nossas cidades não são fenômenos isolados ou incomuns. Ao contrário, tais ações estão completamente de acordo com a compreensão de Freud e Le Bon sobre o comportamento das massas e o impacto da psicologia de grupo. Dessa forma, o período eleitoral, que deveria ser um momento de exercício democrático, se transforma em um palco de confrontos e disputas emocionais onde as paixões políticas se sobrepõem à razão individual.
Essa compreensão sobre a psicologia de grupo ajuda a explicar por que os ânimos se acirram tanto durante campanhas eleitorais. Além do mais, a polarização política intensifica ainda mais esse fenômeno, fazendo com que discussões eleitorais, que poderiam ser produtivas, se transformem em brigas e conflitos. O que, infelizmente, tem sido a realidade de muitas cidades em nosso país.