Caso de recém-nascido mobilizou colaboradores e direção
MANHUAÇU – Imagine um bebê com menos de dois quilos onde todas as previsões eram que iria nascer e morrer em seguida. Essa pequena criança nasceu há pouco mais de vinte dias no Hospital César Leite em Manhuaçu. Foram várias intercorrências, mas todos os dias, ela mostra que quer viver. É realmente cuidado divino. A história de Alice toca todos os profissionais do HCL e está mobilizando uma força tarefa para colocar a UTI Neonatal em funcionamento. Tudo porque outras instituições simplesmente se recusam a receber a pequena bebê de Manhuaçu.
Inaugurada em fevereiro, a unidade neonatal até hoje não foi credenciada pelo SUS. Em agosto, um parecer da Secretaria de Estado de Saúde negou o credenciamento. O problema é existem vidas de crianças inocentes dependendo disso.
O médico pediatra Luiz Carlos Lemos Prata é um dos defensores do projeto da UTI Neonatal. Com experiência de quase 50 anos somente no HCL, ele diz que a transferência de recém-nascidos numa ambulância para hospitais a 150 ou 300 quilômetros é desumana. “A chance de uma criança que precisa de UTI Neonatal é mínima nessa estrada”, pontuou.
A fala do pediatra foi durante reunião nesta segunda-feira (30/09), com todos os setores do HCL. O provedor Sebastião Onofre Carvalho, o diretor do Plancel Leandro Sathler Campos, o tesoureiro Milton Martins e o diretor assistencial Chardson Roberto da Paixão convocaram os colaboradores para somar esforços e adquirir o que fosse preciso. A UTI Neonatal foi colocada em funcionamento para atender Alice e outros bebês que precisarem. Foram vários depoimentos da enfermagem e da assistência social sobre a história dessa criança. A atitude do HCL é, acima de tudo, humana.
Sebastião Onofre Carvalho diz que decidiram fazer o possível em função desse caso. “Nós vamos de uma forma direta implantar a UTI Neonatal, mesmo sem credenciamento do SUS e iremos colocar os leitos à disposição dos convênios, particulares, do Plancel (como é o caso dessa bebê) e dando assim um atendimento de primeira linha. Os leitos estão à disposição de atender pelo SUS, mas dependemos do credenciamento. Estamos fazendo a nossa parte. Nós vamos lutar por essa criança indefesa e por tantas outras que precisam ser transferidas”.
Para o provedor é um crime o que outras instituições estão fazendo. “Tem mais de 20 dias que estamos tentando vaga e a criança luta para sobreviver. Quando a gente pede transferência de um paciente que o outro hospital verifica que é um atendimento difícil e que irá ficar muito tempo naquela instituição, eles negam, falam que não tem vaga. Isso é uma grande omissão da rede hospitalar, tanto da privada quanto da pública. Eu acho que é um crime não receberem um paciente porque irá demorar, vai ser uma despesa alta. Eu fico chateado com as entidades de saúde que se recusam a atender, como nesse caso, uma criança”, pontua.
O diretor do Plancel, Leandro Sathler Campos, também destacou o empenho da equipe do plano. “É uma criança que a família tem o Plancel e fizemos todos os contatos para a transferência, nem assim conseguimos que alguma unidade aceitasse. Agora, o Plancel está auxiliando nessa implantação da UTI Neonatal aqui justamente para garantir o atendimento”, reforçou.
Independente do parecer negando o credenciamento, o Hospital César Leite tem motivos para insistir. A UTI Neonatal foi fruto de um convênio com o estado de Minas Gerais em 2012. O Governo deu recursos para construir a UTI com dez leitos e depois mudaram regras e não credenciam o HCL.
TRANSFERÊNCIAS DISTANTES
O que o HCL contesta é que, no ano de 2018, foram realizados 4.622 partos SUS nas cidades polo da Macrorregião Leste do Sul. Deste total, 2.195 (47,5%) foram realizados no Hospital César Leite; 1.290 (27,9%) foram realizados em Ponte Nova e 1.137 (24,6%) em Viçosa. Constata-se que Manhuaçu é responsável por quase metade dos partos SUS da macrorregião Leste do Sul e é a única das três cidades sem UTI neonatal.
Outro número é a transferência das gestantes. No ano de 2018, o HCL conseguiu transferir 50 gestantes do SUS para hospitais com vaga disponível em UTIs neonatais. “Outras tentamos transferir mas a demora no surgimento da vaga impossibilitou a transferência, com a realização do parto no HCL mesmo. Uma destas gestantes aguardou em nossa maternidade por 11 dias até o SUS Fácil conseguir uma vaga para a mesma. Quando a vaga foi liberada, a mesma viajou por 283 km em uma ambulância. Nossas 50 gestantes somadas, viajaram de ambulância 10.459 km, média de 209,2 km por gestante. Essas mulheres tiveram oito destinos diferentes: Belo Horizonte – 18; Viçosa – 16, Ponte Nova – 10, Barbacena – 2; Carangola – 1, Juiz de Fora – 1, Ipatinga – 1, Muriaé – 1”, contesta o HCL.
O HCL já fez adequações e redimensionou a UTI Neonatal para os novos modelos do SUS e agora espera conseguir a sensibilidade dos órgãos de saúde para credenciar o serviço. “Nós queremos atender pelo SUS. Nossas crianças precisam disso. Temos estrutura, terminamos a obra e compramos equipamentos com apoio da Prefeitura de Manhuaçu e até recursos próprios. Agora precisamos que olhem pelas nossas crianças”, conclui o provedor Sebastião Onofre.