Ildecir A.Lessa
Advogado
O ânimo do brasileiro anda baixo. Em noticiário de pesquisa do Instituto Ipsos, realizada entre o fim de abril e o começo de maio, 59% dos brasileiros disseram acreditar que o país está indo “no rumo errado“. Na edição anterior da pesquisa (março-abril), o número de pessimistas era um pouco menor: 55% pensavam dessa forma.
Na análise desenvolvida pela pesquisa, os brasileiros tiveram um pico de otimismo logo depois do 1º turno das eleições de 2018, em 7 de outubro: naquela época, o número de pessoas que acreditavam que o país estava na direção certa chegou a 50% – os outros 50% achavam que o país estava na direção errada. A pesquisa do Ipsos já é popularmente conhecida. É realizada todos os meses em 28 países ao redor do mundo. A amostra total é de 19.529 pessoas, entrevistadas por meio da internet. No Brasil, a amostra é de pouco mais de mil indivíduos entre 16 e 64 anos, e a margem de erro é 3,1 pontos percentuais, para mais ou para menos.
O atual Chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PSL), foi eleito presidente da República no ano passado com 57,7 milhões de votos – e a mudança de governo contribuiu para amenizar o pessimismo dos brasileiros com o futuro. Contudo, ao longo dos últimos anos, a pesquisa do Ipsos mostrou os brasileiros em um verdadeiro vale de pessimismo – no fim de 2018, éramos os mais insatisfeitos com o rumo do próprio país entre 24 nações pesquisadas. O CEO da Ipsos para o Brasil, Marcos Calliari, destacou na imprensa que a empresa observou o mesmo padrão na última eleição presidencial nos Estados Unidos, em 2016. “A eleição, especialmente para presidente da República, costuma trazer esse momento de otimismo“, diz ele. “E ainda mais num caso tão extremo como o do Brasil, onde mais de 90% da população chegou a acreditar que o país estava indo na direção errada (em 2018)”, diz.
A pesquisa do Ipsos mostra ainda que os brasileiros não estão especialmente pessimistas quando comparados aos cidadãos dos outros países pesquisados. Na média global, 58% das pessoas acham que seus países estão indo na direção errada – um ponto a menos que o Brasil. A pesquisa Ipsos também pediu às pessoas que listassem suas três principais preocupações no momento. No Brasil, 47% responderam que a violência era o principal problema – seguido da qualidade do atendimento de saúde (46%) e o desemprego (39%). A corrupção, que chegou a figurar como a principal preocupação dos brasileiros em 2016, perdeu relevância relativa – foi citada por 38% dos entrevistados, em 4º lugar.
Segundo Calliari, a corrupção estava mais presente na mente dos brasileiros no auge da operação Lava Jato, quando o tema estava frequentemente no noticiário. O número de pessoas preocupadas com a corrupção está em tendência de queda no país desde setembro de 2018. Na última edição da pesquisa Ipsos, 42% dos brasileiros se disseram preocupados com a corrupção. Outra curiosidade: o Brasil é o país mais preocupado do mundo com a educação. Nada menos que 36% dos brasileiros citaram o tema entre suas preocupações.
Conforme Calliari, o Brasil está sempre no topo da lista dos países que mais se preocupam com a educação – mas, ao contrário do que possa parecer, isso não é uma notícia boa. “O que acontece é que o brasileiro não tem acesso à educação mais básica. O que a pesquisa mostra não é uma preocupação com o tema da educação, e sim uma preocupação com o acesso a esse serviço“, diz ele.
O mesmo acontece com a saúde, segundo o CEO da Ipsos. A lista de coisas que realmente preocupam os brasileiros neste momento se encerra com o tema da pobreza e desigualdade social (28%). Abaixo disso, todas as outras alternativas receberam muitos poucos votos em nosso país: impostos (16%), inflação (10%), ameaças ao meio ambiente (8%), extremismo político e religioso (7%), declínio moral (7%), manutenção dos programas sociais (3%), terrorismo (2%), controle da imigração (2%), mudança climática (2%), acesso ao crédito (2%) e obesidade na infância (1%). De pesquisa em pesquisa, vai se revelando o ânimo do brasileiro, com o interessante destaque de que, os problemas parecem ser os mesmos. Ânimo Brasil!