- Eugênio Maria Gomes
De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa, a palavra “Companheirismo” pode ser definida como “convívio cordial e amistoso”. Enquanto conceito, o termo significa a aproximação de duas ou mais pessoas, a partir de determinados princípios, tais como a aceitação, o respeito, a lealdade e a cordialidade.
Agir com Companheirismo é essencial para o bom resultado das relações sociais, familiares e trabalhistas, assim como é fundamental para a saúde de um clube de serviços, alicerçado neste conceito.
Antes mesmo de iniciar a sua participação como membro de um clube de serviços, o futuro membro costuma passar por um processo intitulado “Doutrinação”, que nada mais é do que o compartilhamento de valores, crenças, ideais, objetivos e disciplina que devem ser seguidos pelos membros do Clube. Normalmente, neste encontro, o postulante a membro do clube toma conhecimento de que atuará através do Companheirismo.
Pois bem, esse conceito é, de fato, predominante em praticamente tudo o que se faz na maioria dos clubes de serviços. Sendo muito comum, inclusive, que os membros se tratem reciprocamente como “Companheiros”. Acredito até que, ao elaborarem os objetivos, o código de ética e os propósitos dos clubes de serviços, seus idealizadores tenham levado em conta a difícil tarefa que é conviver com o outro. Relacionamentos, quase sempre, são complicados. Mesmo que seus personagens consigam driblar as adversidades, intercalando bons e maus momentos, ocorrerão “picos” de satisfação e de insatisfação, capazes de provocar verdadeiros terremotos na convivência com os outros. Lidar com pessoas acaba por se tornar uma arte. Querendo ou não, gostando ou não, o Ser Humano tem, apenas, um caminho: RELACIONAMENTOS! Relacionamentos em todos os níveis e formas possíveis: no trabalho, na família, nos negócios, na amizade, no amor e, claro, relacionamentos sociais, inclusive como “Companheiros”, nos clubes de serviços.
.Não é por menos que a maioria dessas associações ao promoverem a possibilidade da livre discussão de todos os assuntos de interesse público, coloca como exceção a discussão relativa ao partidarismo político e o sectarismo religioso, que não devem ser debatidos por seus sócios.
O homem vive hoje a era da tecnologia, sob a égide dos relacionamentos virtuais. Ele tem mais amigos no Facebook, no Instagram e no WhatsApp do que na vida real. Conversa mais digitalmente do que pessoalmente. A maioria dos Clubes de Serviços criou o grupo virtual com seus sócios, os quais o incorporaram à sua já extensa lista de outros grupos sociais, profissionais e familiares. Ninguém mais dá conta de ver e, muito menos, de responder a tantas mensagens. No começo, tudo é novidade… Um bom dia aqui, outro ali, uma piada, um videozinho, nada que atrapalhe receber uma mensagem que realmente se refira ao clube, aos companheiros ou às atividades. Em pouco tempo, são dezenas de orações, outro tanto de “bom dia”, vídeos e mais vídeos, textos enormes sobre os mais diversos assuntos e, de repente, se abre o aplicativo e se percebe aquele número verde registrando 50, 80, 100 mensagens. Não dá mais para ler todas, por isso o usuário corre o dedo, tentando ver se há algo de interesse real e, claro, acaba perdendo aquela mensagem que realmente interessava.
Acontece que, intencionalmente ou não, o grupo de WhatsApp se tornou uma espécie de “extensão” dos clubes e de suas reuniões, só que com muito menos “controle” sobre a pouca atenção dos participantes, assim como das vezes em que extrapolam em suas postagens, em seus comentários, em seus posicionamentos. É preciso cuidado, bom senso, para que a tecnologia, que deveria ser usada positivamente para as atividades do clube, não se torne um empecilho ao fortalecimento do Companheirismo.
Dos quadros de sócios dos clubes de serviços, espalhados Brasil afora, já saíram prefeitos, vereadores, deputados, senadores e, até, presidentes. Cada um com sua ideologia política e filiados a partidos políticos diferentes. Os clubes são dirigidos por presidentes católicos, evangélicos, espíritas, judeus, budistas, ateus etc. Uma ocorrência comum, já que os membros dos clubes observam os instrumentos e as normas de conduta que sustentam suas atividades. Agora, no entanto, acende-se o sinal de alerta ao perceber-se certo perigo nos relacionamentos através das redes sociais. Há sim, alguns riscos e é preciso cuidado em relação a esta questão. Não existe unanimidade em todos os temas. Ninguém é obrigado a gostar do político X, ou do político Y. Como também ninguém é obrigado a ler ou ouvir críticas a algumas crenças, gostos ou opiniões pessoais.
A comunicação digital normalmente é mais fria e desprovida da empatia advinda do “olho no olho”. É comum alguns parecerem mais agressivos, outros demonstrarem positividade em excesso e, a maioria, parecer mais corajosa para abordar determinados assuntos. Não se deve deixar que essa “coragem” de expor algumas questões no grupo virtual faça com que se perca o verdadeiro sentido do Companheirismo no mundo real. Como já disse, querendo ou não, as redes sociais viraram meio que uma extensão do que a motivou a ser criada e, no assunto em epígrafe, uma extensão dos clubes de serviços.
É muito importante saber lidar com essa modalidade de comunicação que a tecnologia oferece. Além de utilizá-la para estimular o serviço desinteressado, para conscientizar os participantes quanto aos objetivos de seus clubes, para valorizar e reconhecer resultados e as ideias coletivas, também é preciso utilizá-la para estimular o respeito mútuo e a cortesia entre todos.
*Funcionário da Funec e escritor.